26 de novembro de 2012

Lembranças: Meu conto de Natal


     Há muitos Natais (me choco com a possibilidade de poder dizer essa frase aos 21 anos), me lembro de ir ao shopping com meu pai para comprar um presente para minha mãe. Eu ainda era bem menor que ele, e andamos de mãos dadas até chegarmos na loja escolhida. Nos separamos à procura do que poderia agradar nossa querida mãe e esposa, e meu pai acabou escolhendo um CD que julgamos ser o ideal. Mas eu e meu pai somos muitos caprichosos e sabíamos (todo mundo sabe) que quando se compra um CD, a embalagem pra presente é pré-fabricada. É aquela sacola quadrada que já vem com cola, é só selar o embrulho. Bem feiosinha e sem graça alguma. Nenhuma mãe acharia interessante um embrulho daquele embaixo da árvore de Natal. Por esse motivo, resolvemos comprar um embrulho bem bonitinho e especial.
     Passei um tempo olhando várias emalagens, e então escolhi uma caixinha linda, amarela com estampa de flores, super minha mãe. Mostrei pro meu pai ele aprovou. Decidimos também escolher uma fita bem bonita que combinasse com as cores da caixa para poder fechá-la. Fazer um daqueles embrulhos de filme, que a fita envolve a caixa e fecha com um laço em cima, sabe? Encontramos uma dourada que ficaria perfeita! Enquanto meu pai olhava outras coisas na loja, eu levei o CD, a caixa e a fita até a parte de pacotes da loja para pedir que embrulhassem tudo pra mim.
    No caixa eu entreguei as coisas para uma moça. Não consigo me lembrar no rosto dela, apenas das expressões. Quando pedi que ela fizesse um laço bem bonito, ela sorriu. Esperei que ela fizesse o que pedi e me distraí por algum motivo. Olhando as pessoas, a loja, sei lá. Sei que quando ela me chamou a atenção dizendo que tinha terminado e me entregou o embrulho, estranhei. Estranhei porque a caixa não estava fechada, estava apenas com um laço em cima. Ela fez um laço apenas na tampa da caixa. Me olhava toda orgulhosa, e eu não sabia o que dizer. Não sei explicar a sensação. É bobo, é irrelevante, mas eu me senti extremamente decepcionada com a moça e com o emburlho que ela fez, que não era como eu queria. Peguei o embrulho e não disse nada, só levei até meu pai.
     Meu pai imediatamente teve a mesma reação. Aquela que não sei explicar, e que sempre que lembro desse fato, ainda sinto. É como se todo o ritual que tivemos até ali para escolher o presente tivesse se desfeito porque a moça entendeu errado o que eu pedi. Ou porque eu não prestei atenção no que ela fazia.
     E essa é meu conto de Natal. Não tem choro, não tem Papai Noel, não tem final feliz. Só é algo que me lembro em quase todo Natal quando vou fazer um embrulho pra presente: aquele laço sem utilidade na caixa amarela bonita.
    Mas ah! Tem final feliz, sim! Não me lembro qual CD escolhemos para minha mãe, mas ela usa a caixinha do embrulho até hoje para guardar joias. Só que sem o laço. 

Um comentário:

  1. Quando eu era menor eu ganhava um relógio novo todo ano no meu aniversário, e eu sempre guardava a caixinha deles USIOAUSIOAIO mas parei de ganhar os relógios quando eu tinha uns 13 anos por aí, lembrei disso lendo o seu conto.

    http://somecontroversy.blogspot.com.br

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